sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

RETROSPECTIVA 2008: Crise financeira global marca clima de incerteza

São Paulo, 26 de dezembro de 2008 Com o sistema financeiro global em níveis de complexidade e integração sem precedentes, 2008 foi o ano marcado pela rápida contaminação da crise subprime norte-americana nos mercados e da conseqüente deterioração da atividade econômica mundial. A crise atropelou instituições e analistas, se intensificou rapidamente e atribuiu ao momento a marca da incerteza. O presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro, João Paulo de Almeida Magalhães, explica que o epicentro da crise está nos empréstimos hipotecários de alto risco (subprimes) nos Estados Unidos, "que eram créditos sem garantias encorajados pela alta dos preços dos imóveis. O cidadão acreditava que se não conseguisse pagar a dívida poderia vender o imóvel e até ter uma sobra de dinheiro". O economista explica que intermediários financeiros, por sua vez, realizaram a securitização do setor subprime, expandindo rapidamente a venda de títulos. Com isso, foi criada a bolha imobiliária, que estourou quando os preços do setor atingiram um pico e iniciaram a trajetória de queda. Segundo Magalhães, entretanto, além da crise subprime, outro fator está no centro desta crise: "houve uma espécie de anomalia do sistema financeiro, que crescia muito mais rapidamente que a economia real. Havia uma contradição muito grave no descolamento entre o capital financeiro e os bens reais, com um sistema de derivativos inchado montado pelos bancos". Avaliação semelhante faz o professor José Roberto Savoia, do laboratório de finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração): "a crise subprime levou a uma deterioração dos balanços dos bancos, mas, além dos empréstimos e derivativos oriundos deste setor, havia uma má qualidade de ativos em várias outras áreas e um excesso de alavancagem, que a crise hipotecária tornou evidente". Após inúmeras baixas contábeis no setor financeiro, o pico deste processo aconteceu em setembro, mês em que o banco de investimentos Lehman Brothers entra com pedido de concordada e a Merrill Lynch anuncia um acordo para ser vendida ao Bank of America. Outras duas grandes instituições financeiras, o Morgan Stanley e Goldman Sachs, mudam seu status de bancos de investimento para holdings financeiras, marcando a derrocada do setor. No dia 16 do mesmo mês, o Federal Reserve anuncia um pacote de US$ 85 bilhões para tentar evitar a falência da seguradora AIG (American International Group). Depois que as financiadoras de hipotecas subsidiadas pelo governo Freddie Mac e Fannie Mae haviam sido nacionalizadas, no dia 25, a companhia Washington Mutual é vendida para o Citigroup numa operação costurada pelo governo. Depois, o acordo com o Citi seria rompido e a financiadora é comprada pelo Wells Fargo. No dia 28 de setembro, o grupo belga Fortis é parcialmente nacionalizado, com os governos da Holanda, Bélgica e Luxemburgo injetando mais de 11 bilhões de euros na instituição. No mesmo dia, democratas e republicanos anunciam que chegaram a um acordo para o pacote de US$ 700 bilhões de salvamento no setor financeiro, que seria sancionado como lei no dia 3 de outubro, depois de ser rejeitado uma vez na Câmara dos Representantes. Inicialmente, o montante seria destinado para a compra de ativos problemáticos, mas o governo acabou optando pela injeção de capital via compra de participações nos bancos. No dia 19 de dezembro, US$ 17,4 bilhões do programa seriam destinados também para o setor automotivo, via crédito para as montadoras General Motors e Chrysler, que estão sob risco de falência. Débora Prado e Paula Sambo / Agência Leia