segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A China sobe um degrau

Autor(es): Milton Gamez
Isto é Dinheiro - 23/08/2010
 


O país ultrapassa o Japão e se torna a segunda maior economia do mundo. O primeiro lugar é apenas uma questão de tempo


São 11 horas da noite e um calor insuportável castiga milhares de turistas que passeiam no calçadão do Bund, na margem esquerda do rio Huangpu. As águas que dividem Xangai ao meio evaporam e embaçam as lentes dos chineses e ocidentais que miram a imensa torre de tevê e os prédios altíssimos do outro lado, em Pudong, num show de cores e luzes parecido com o da Times Square, em Nova York.

Ao fotografar a moderna China do século XXI, os turistas dão as costas às construções europeias que caracterizam a parte mais antiga da cidade, uma área portuária dominada pelos estrangeiros no passado. Na verdade, a China como um todo acaba de virar mais uma página da história ao se transformar na segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Esperada há algumas semanas, a notícia foi confirmada na segunda-feira 16, quando o Japão divulgou um crescimento menor que o esperado do PIB no segundo trimestre do ano, de apenas 0,4%. Com isso, o valor nominal da geração de riqueza no Japão atingiu US$ 1,286 trilhão entre abril e junho, abaixo dos US$ 1,335 trilhão obtido pela China no mesmo
período.

Como cresce a um ritmo de 10% ao ano, o país mais populoso do mundo deve manter a posição no segundo semestre e superar a produção japonesa até o final de 2010, apenas três anos depois de deixar a Alemanha para trás. As estatísticas provam que a China, ao romper a barreira do PIB de US$ 5 trilhões, não é apenas uma economia emergente.

É uma verdadeira superpotência econômica que, obviamente, deve ser tratada como tal. Nessa velocidade, a China pode superar os EUA antes de 2030. No ano passado, o PIB americano foi de US$ 14 trilhões.

Quem faz negócios com os chineses não tem dúvidas de que essa ascensão econômica é um caminho sem volta. Para a maioria dos  países asiáticos, a China já é o maior parceiro comercial, na frente do  Japão. Isso também é verdade para o Brasil.

Se nas últimas décadas as reformas liberalizantes do governo comunista abriram o país para o mundo, atraindo investimentos de várias multinacionais, o que irá assegurar o crescimento nos próximos anos? A resposta está no próprio mercado interno, formado por 1,3 bilhão de consumidores.

Do alto de seus seis mil anos de história, o país ainda engatinha rumo ao que poderá ser no futuro. A renda per capita é de US$ 3,7 mil, anos-luz em termos econômicos em relação à do Japão (US$ 37,8 mil) e à dos Estados Unidos (US$ 46,4 mil).

Hoje, a China gasta fortunas para construir trens-bala e integrar as várias províncias ao milagre econômico. O potencial de crescimento é gigantesco. A China ainda é um país que está se desenvolvendo, tem um longo caminho pela frente e não vai parar por aqui.

Há muito a ser feito nas próximas décadas, afirmou à DINHEIRO  Helen Wong, presidente do HSBC Bank China, o maior banco estrangeiro  em operação no país. Fundado em Hong Kong e em Xangai em 1865 para financiar o comércio exterior, o banco HSBC cresceu fora da China comunista e virou um banco global, sediado em Londres.

Agora, está investindo para crescer na parte continental do país, dominada pelos bancos estatais. O presidente mundial, o inglês Michael Geoghegan, que dirigiu a filial brasileira, mudou-se para Hong Kong recentemente, já que metade das receitas do grupo vem da Ásia e os ventos econômicos continuam soprando forte naquela região.

Do seu escritório, no 37º andar do recém-inaugurado HSBC Building em Pudong, Helen observa a antiga sede do banco, no Bund, na margem oposta do rio. Ela não tem medo de superaquecimento seguido de recessão, como houve no Japão. O governo tem o controle da economia e está tomando as medidas corretas, afirma.

Onze andares abaixo, o carioca Henrique Vianna comanda uma nova área, a Latin America/Asia desk, criada há cinco meses para atender multinacionais com negócios nas duas regiões. Sinal dos tempos. Tudo acontece muito rápido na China.

Há menos de 20 anos, este lado da cidade era uma área rural. Hoje é um importante centro financeiro, com alguns dos prédios mais altos do mundo, diz Vianna. Não por acaso o pavilhão da China na Shanghai Expo 2010, a maior feira do mundo, que acontece na cidade, é o mais visitado, com filas de até cinco horas de espera. Sem pressa, os chineses estão chegando lá.

Via Ministério do Planejamento do Brasil