quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fraudes generalizadas ameaçam ascensão econômica chinesa

Pressão sobre pesquisadores produziu avalanche de teses plagiadas.

Falsificação em pesquisa científica prejudica escalada econômica do país.
Andrew Jacobs Do New York Times
Fang Shimin, escritor também conhecido pelo codinome Fang Zhouzi, dirige o site New Threads, que expôs mais de 900 pesquisas falsas em Pequim 
Fang Shimin, escritor também conhecido pelo
codinome Fang Zhouzi, dirige o site New Threads,
que expôs mais de 900 pesquisas falsas em
Pequim (Foto: Du Bin / The New York Times)
O talento de Zhang Wuben como vendedor é inquestionável. Através de programas de televisão, DVDs e um livro best-seller, ele convenceu milhões de pessoas de que berinjela crua e feijão verde em grande quantidade podem curar lúpus, diabetes, depressão ou câncer.

Na China, os pacientes com doenças graves pagam US$ 450 por uma consulta de 10 minutos e recebem uma receita. Mas com Zhang isto não é possível, pois ele é um dos profissionais mais populares da tradicional medicina chinesa e sua agenda está lotada até 2012.

No entanto, quando o preço do feijão verde disparou nesta primavera, os jornalistas chineses começaram a ir mais fundo. Eles descobriram que, ao contrário do que dizia, Zhang, 47, não pertence a uma família de médicos (o pai era tecelão). Ele tampouco se formou pela Universidade de Medicina de Pequim (sua única educação formal foi o curso por correspondência feito depois que ele perdeu o emprego em uma indústria têxtil).

A revelação das credenciais falsas de Zhang provocou discussões sobre as práticas desonestas que permeiam a sociedade chinesa, criticadas por estudiosos e por seus próprios cidadãos.
Tais práticas incluem trapaças de alunos nos vestibulares, intelectuais que promovem pesquisas falsas ou plagiadas e indústrias de laticínios que vendem leite envenenado para crianças.

As últimas revelações são ainda mais chocantes. Após um acidente de avião, que matou 42 pessoas no nordeste da China em agosto, foi descoberto que 100 pilotos da companhia áerea haviam falsificado seus históricos de vôo. Em seguida, houve o escândalo de Tang Jun, o milionário ex-chefe da Microsoft na China e uma espécie de herói nacional, que falsamente afirmou possuir doutorado do Instituto de Tecnologia da Califórnia.
s países estão imunes a fraudes de alta repercussão. O doping nos esportes e a corrupção em Wall Street são os escândalos do momento nos Estados Unidos. Mas na China, a falsificação em uma área em particular - a educação e investigação científica – já se alastrou a ponto de prejudicar a escalada econômica do país.

A China investe recursos significativos na construção de um sistema de ensino de nível internacional e pesquisas pioneiras em ciências e mercados competitivos. Além disso, o país tem alcançado notável sucesso em redes de computadores, energia limpa e tecnologia militar.

Mas a falta de integridade entre os pesquisadores está atrapalhando seu potencial e prejudicando a colaboração entre pesquisadores chineses e seus colegas de outros países.

"Se não mudarmos nossas maneiras, seremos excluídos da comunidade acadêmica global", declara Zhang Ming, professor de relações internacionais na Universidade Renmin, em Pequim. "Precisamos nos concentrar em buscar a verdade, em vez de seguir a agenda de algum burocrata ou satisfazer o desejo de lucro pessoal".

A pressão feita sobre os pesquisadores pelos administradores das universidades públicas para que publiquem artigos em revistas científicas - uma medida de inovação - produziu uma avalanche de pesquisas plagiadas ou fabricadas. Em dezembro, um jornal britânico especializado em formações de cristais anunciou a retirada de mais de 70 trabalhos de autores chineses, cuja originalidade e rigor estavam sendo questionados.

Em um editorial publicado no início deste ano, a revista médica britânica “The Lancet” advertiu que pesquisas falsas ou plagiadas representavam uma ameaça à promessa do presidente Hu Jintao de transformar a China em uma "superpotência em pesquisas" até 2020. "Está claro que o governo chinês deve pegar este episódio como exemplo para revigorar os padrões de ensino de ética em pesquisa e para a realização das pesquisas em si", relatou o editorial.
Destroços do aviçao fabricado pela Embraer que se acidentouna China. Destroços do avião que se acidentouna China em agosto: investigação revelou que 100 pilotos da companhia aérea haviam falsificado seus históricos de voo (Foto: Reuters)
Software detecta plágios
Em setembro, uma coletânea de periódicos científicos publicados pela Universidade de Zhejiang, em Hangzhou, reacendeu a fogueira ao divulgar os resultados de uma experiência de 20 meses com um software que detecta plágios.

O software, chamado de “CrossCheck”, rejeitou quase um terço de todos os trabalhos, sob suspeita de que os conteúdos tenham sido pirateados a partir de pesquisas anteriormente publicadas. Em alguns casos, mais de 80 por cento do conteúdo foi considerado cópia.

A editora das publicações, Zhang Yuehong, enfatizou que nem todos os artigos plagiados eram originários da China, mas se recusou a revelar mais detalhes."Alguns eram da Coreia do Sul, Índia e Irã", disse ela.

Os artigos especializados em medicina, física, engenharia e ciência da computação, foram os primeiros na China a utilizar o software. “No momento, eles são os únicos que o utilizam”, acrescentou ela.

As descobertas não surpreendem se considerarmos os resultados de um estudo recente do governo, em que um terço dos 6.000 cientistas de seis das maiores instituições do país admitiram que haviam se envolvido com plágio ou com a invenção de dados para pesquisas. Em outro estudo com 32 mil cientistas, feito no verão passado pela Associação Chinesa para Ciência e Tecnologia, mais de 55% disseram que conheciam alguém que já tenha cometido fraude acadêmica.

Fang Shimin, um escritor sensacionalista que se tornou um famoso defensor da integridade acadêmica, diz que o problema começou com o sistema universitário estatal, no qual burocratas nomeados politicamente têm pouca experiência nas áreas que supervisionam. Devido à grande concorrência para bolsas de estudos, auxílio moradia e aperfeiçoamento de carreira, os funcionários baseiam suas decisões no número de artigos publicados.

"Mesmo os artigos falsos contam, pois ninguém realmente os lê", afirma Fang, que é mais conhecido pelo pseudônimo Fang Zhouzi. Seu site “New Threads” já desvelou mais de 900 casos de falsificação, alguns envolvendo reitores de universidades e pesquisadores de renome.

Quando o plágio é exposto, colegas e líderes estudantis geralmente defendem o acusado. Fang explica que isso acontece em parte com o objetivo de preservar as relações e proteger a reputação da instituição. Mas o outro motivo, segundo ele, é mais preocupante: são poucos os acadêmicos idôneos, que podem apontar o dedo para acusar os outros.

O resultado é que muitas vezes os plagiadores não são punidos, o que acaba incentivando esta prática, afirma Zeng Guoping, diretor do Instituto de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Tsinghua, em Pequim, que ajudou na pesquisa feita com 6.000 acadêmicos.

Ele cita o caso de Chen Jin, um cientista da computação que já foi célebre por ter inventado um microprocessador sofisticado, mas que na verdade utilizou um chip fabricado pela Motorola, riscou o nome da empresa e alegou ser invenção sua. A revelação da fraude, em 2006, causou constrangimento na comunidade científica que o apoiava.

Chen perdeu seu cargo na universidade, mas nunca foi processado."Quando as pessoas vêem que os acusados continuam dirigindo seus carros vistosos, o mau exemplo está dado", declara Zeng.

5 mil revistas acadêmicas
O governo chinês prometeu resolver o problema. Editoriais de jornais estatais têm condenado frequentemente o plágio. No mês passado, Liu Dongdong, membro do Politburo que supervisiona as publicações, prometeu fechar algumas das cerca de 5.000 revistas acadêmicas, cujo motivo único para existir, segundo dizem os estudiosos, é proporcionar uma saída para professores e doutorandos que queiram inflar suas credenciais de publicação.

Os jornalistas Fang Shimin e Fang Xuanchang já ouviram promessas e ameaças antes. Em 2004 e 2006, o Ministério da Educação anunciou campanhas contra fraudes, mas os dois grupos responsáveis pela solução do problema ainda não aplicaram nenhuma punição.

Nos últimos anos, os dois jornalistas investigaram Xiao Chuanguo, urologista inventor de um procedimento cirúrgico que visa restaurar a função da bexiga em crianças com espinha bífida, uma deformação congênita da coluna vertebral, que pode levar à incontinência e, insuficiência renal e até à morte.

Em uma série de reportagens e postagens em blog, os jornalistas revelaram discrepâncias no site de Xiao, incluindo alegações de que ele havia publicado 26 artigos em revistas de língua inglesa (eles encontraram apenas quatro) e que havia recebido um prêmio pelo conjunto de sua obra da Associação Americana de Urologia (o prêmio foi dado para um ensaio que ele escreveu).
Mas ainda mais preocupante, segundo eles, foram as afirmações de que a cirurgia apresentava uma taxa de sucesso de 85 por cento. Dos mais de 100 pacientes

entrevistados, nenhum relatou ter sido curado de incontinência, e 40 por cento disseram que sua saúde havia piorado após o procedimento, que incluia a mudança de itinerário de um nervo da perna para a bexiga.
Independente do que tenha ocorrido, Xiao ficou furioso. Ele entrou com uma série de processos por difamação contra Fang Shimin e anunciou que iria se vingar.
Recentemente, os dois jornalistas foram brutalmente atacados nas ruas de Pequim - Fang Xuanchang por bandidos com uma barra de ferro e Fang Shimin por dois homens armados de spray de pimenta e um martelo.
Quando a polícia prendeu Xiao, em 21 de setembro, ele confessou a contratação de homens para realizar o ataque. A razão, disse ele, foi a vingança contra as revelações que impediram sua nomeação para a prestigiada Academia Chinesa de Ciências.
Apesar da confissão, a Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, onde Xiao atua, não pareceu disposta a tomar qualquer ação contra ele. Em um comunicado, os administradores disseram que ficaram chocados com a notícia de sua prisão, mas que iriam aguardar o desfecho dos processos judiciais antes de romper os laços com ele.
Tradução: Claudia Lindenmeyer

Via G1

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Feira educacional chinesa ocorre em outubro

Será realizada nos dias 22 e 23 de outubro, das 9h às 18h, a segunda edição da Feira de Universidades Chinesas 2010. Os interessados em participar podem inscrever-se gratuitamente até o dia 21 de outubro pelo e-mail cbcde@cbcde.org.br.

Nesse evento, o público terá acesso a informações nas áreas de graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado e MBA (Master of Business Administration), além da oportunidade de conhecer um pouco mais sobre as instituições de Ensino Superior do país asiático.
Estarão presentes no encontro 80 autoridades acadêmicas e governamentais chinesas, representando 26 instituições universitárias. Esta será a segunda maior delegação acadêmica do país a visitar o Brasil. A sede da feira será no Memorial da América Latina, no auditório Simon Bolívar.
O encontro é realizado pela CBCDE (Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico) e pelo Instituto Confúcio na Unesp (Universidade Estadual Paulista). O evento vai contar ainda com o apoio Embaixada da China no Brasil, do Consulado Geral da China em São Paulo e da ACB (Associação Chinesa do Brasil). Fonte:
www.universia.com.br


Fonte: Editora Atlas

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Carta de um professor doente



O texto abaixo foi publicado no site de notícias da SBPC 2010 -Recife.
Achei muito interessante...

Estou doente...

Produzo mais papéis e máquinas e menos seres humanos, indivíduos! A nossa era se chama ?PRODUÇÃO CIENTÍFICA...

Quanto? Preciso estar ?on line? e ligado 24 horas para produzir: 5 artigos por ano, pelo menos 1 Qualis A e os demais podem ser A2, B1 ou B2, mas o resto não interessa; pelo menos 1 livro e um capítulo de livro por ano.

Ah! Não posso esquecer das comunicações em eventos! Devem ser preferencialmente trabalhos completos, publicados nos anais em Congressos Internacionais porque os resumos expandidos e os simples não contam nada na nossa avaliação. E se forem em eventos regionais ou locais menos ainda.

Devo participar de 2 Programas de Mestrado como efetivo e um terceiro como Colaborador.

Devo ministrar 4 ou 5 disciplinas na Graduação, ou se não for assim preciso ter 4 ou 5 turmas, com pelo menos 50 vagas ofertadas para ministrá-las. Muitas das vezes, em espaços que comportariam muito menos... Quantos créditos: 12, 16, 20 ou 24 por semestre?

Devo ministrar também 1 ou 2 disciplinas na Pós-Graduação. Preciso orientar os trabalhos de conclusão de curso (4 ou 5, às vezes só um pouco mais por semestre). Preciso orientar pelos menos dois estudantes de Mestrado por ano... Ah! Eles precisam defender suas dissertações em 24 meses... O ideal já seria defender em 18 meses! E os Co-orientados? Quantos?

Tenho ainda os estágios, os projetos de fomento e de PIBIC. Ainda faltam as comissões e os cargos administrativos!

Precisamos de mais cursos, mais disciplinas e mais estudantes, mais cargos e mais comissões... Assim, ganhamos mais TRABALHO e temos menos VIDA. Meu tempo está acabando... O dia é muito curto e as 24 horas já não me são mais suficientes.

Que tal repensarmos o nosso Calendário? O dia poderia ser um pouco maior e o ano poderia ter mais alguns meses... Puxa! Como seria feliz por isto... PODERIA TRABALHAR MAIS! Muito mais, pois ainda preciso ser bolsista de produtividade. Quero também ser pesquisador!

Antigamente, o Professor era Senhor ou Senhora, um segundo pai ou uma segunda mãe, um tio ou uma tia. Era também um EDUCADOR. Um erudito e um verdadeiro HERÓI. Hoje o professor ?brother?, ?chapa?, ?meu?, ?brô? e ?véio?, entre outros... Muitos outros!

O bom é que temos mais professores. Muito mais! Por outro lado, temos menos salas e dividimos os nossos 15m2 (chamado gabinete) com mais 3 ou 4 e todos os seus orientandos também. Pelo menos não posso reclamar de solidão no trabalho, nem de monotonia. A vida de Professor é pura agitação... Altas baladas como dizem.

Meu dia de trabalho terminou na Instituição... A jornada de trabalho de um celetista é de 44 horas por semana, com tendência natural de reduzi-la. E a nossa de professor? Isto é muito pouco!

Além da nossa rotina diária, ao chegarmos em casa precisamos continuar TRABALHANDO! Tem as correções de provas, aulas e notas de aulas para serem preparadas, seminários, palestras, etc.. Ou melhor, fazer invencionices para melhoramos a nossa performance para nossos estudantes.

As aulas não são mais atrativas... Eles dizem: melhor seria estar com a Galera ou a Turma... Atender celular, passar minhas mensagens, jogar meus novos games do celular, msn, orkut, facebook, mostrar meu aparelho de celular novinho ... Tem muito mais opções! Perder tempo com estas aulas? Que tédio! Tudo está na Internet mesmo.

Esqueci da elaboração dos projetos! Preciso de recursos financeiros para realizar alguns trabalhos e o prazo se encerra amanhã. Ainda bem que o envio é on line. O sistema, hoje em dia, em alguns editais recebem até 24 horas depois... UFA! Vai dar tempo.

Aqueles que precisam da nossa atenção em casa: mãe, pai, esposa, marido, filha, filho, neta, neto, noiva, noivo, namorada, namorado... Gato, cachorro, peixe, papagaio, periquito... etc? ELES PODEM ESPERAR!

E as minhas necessidades: físicas e fisiológicas? E o meu lazer e meu prazer? Confesso que às vezes me sobra um tempinho para isto tudo, apesar de serem atividades menos nobres.

Preciso dormir, mas tenho que TRABALHAR! Preciso acordar, antes de dormir. Estou doente! Não tenho tempo de ir ao médio... Depois vejo isto! Estou gravemente doente, mas não posso me curar. Preciso TRABALHAR e PRODUZIR mais papéis (textos, livros, artigos, relatórios, etc...). Meu CURRÍCULO LATTES está desatualizado!

Tenho que produzir mais máquinas também, pois o mercado assim exige.

Fico triste no final. A maior parte de toda a minha produção permanece intocável e, na maioria das vezes, enfeitando estantes e gavetas. Poucos realmente lêem aquilo que é fruto de uma vida inteira de total entrega ao sistema. Ou no caso das máquinas, algumas ficam sem emprego.

Ah! Eu não posso me queixar, pois apesar desta pequena carga de trabalho tenho um bom salário.

?Não sois máquinas! Homens é o que sois? é uma famosa frase de Charles Chaplin, ou ainda ?O que somos é conseqüência do que pensamos? de Buda. Acredito que isto é coisa do passado... Está fora de moda!

Podemos ver que a geração atual não os conhece, pois seus mais recentes ídolos e sua identidade são diferentes: ?Exterminador do Futuro ?
Arnold Schwarzenegger?, ?Rambo ? Sylvester tallone?, ?Indiana Jones ? Harrison Ford?, ?007 - Daniel Craig?, etc. Estes são os verdadeiros heróis: imbatíveis, incansáveis e imortais.

Estou doente... Gravemente doente... Incurável...

E no fim!

AQUI JAZ um EX-PROFESSOR que um dia sonhou ser PESQUISADOR.